por cavalheirosdoapocalipse, em 24.04.13
A constituição portuguesa tem mais de 32 mil palavras e de 210 mil caracteres, incluindo espaços, distribuídos por 296 artigos e um preâmbulo. A constituição americana, para contextualizar a nossa análise, tem cerca de 7 mil palavras e pouco mais de 42 mil caracteres, também incluindo espaços, e já contabilizando todas as emendas que foram feitas. Um blockbuster, uma constituição light feita à americana, para as massas. Mesmo os franceses, apesar dos seus tiques antiamericanos, nunca se esforçaram por se demarcar deste estilo de constituição pop, mantendo uma com cerca de 13 mil palavras.
Ao contrário de alguns homens do bitaite, eu sou a favor da preservação deste património. A atenção ao pormenor, a exaustividade e um olhar céptico sobre o mundo, fazem desta obra uma construção defensiva da sociedade livre e democrática portuguesa, mesmo que à data da sua criação pouco ou nada se falasse de pedofilia, aquecimento global, redes sociais, parcerias público-privadas, crise financeira ou activos tóxicos, que teriam merecido, certamente, uma centena de outros artigos.
Se para alguns, esta constituição tem artigos de mais, para mim nunca serão suficientes, sabendo nós que as ameaças à nossa bonita democracia germinam rapidamente, não exigindo nem muita água nem muito sol. Não nos vamos alongar, mas nesta lei não se encontra qualquer vestígio de uma preocupação com a vida extraterrestre, esperando que daqui a uns anos não sobrem lamentos por não termos um instrumento constitucional que nos proteja das ameaças vindas de outros planetas. E quem estiver atento, como eu tenho estado, ao percurso do nosso presidente da república não se surpreenderia com a possibilidade deste ter sido há muito raptado por extraterrestres e substituído por um fantoche alienígena, com indisfarçáveis inépcias para a integração social e política.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 29.03.07
Finalmente, conheci uma das meninas do GPS. Foi há dias, quando acompanhei um amigo numa viagem a Lisboa. Já me tinham dito maravilhas das meninas do
Global Positioning System e que todas as mulheres do mundo deviam ser como elas.
Por isso, foi com alguma expectativa que iniciei a viagem e o que posso dizer é que era verdade tudo o que me haviam dito, estando seriamente a pensar em arranjar uma dessas meninas para o meu carro, tendo em conta todas as suas virtudes.
Ao contrário da maioria das mulheres (há quem defenda que ao contrário de todas), as meninas do GPS dizem apenas o estritamente necessário e tudo o que dizem é de extrema utilidade. Nós dissemos-lhe que queríamos ir para a Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, ela pensou uns segundos e de seguida disse-nos “Virar à direita”. E, depois, a cada cruzamento ou bifurcação, indicava-nos para que lado tínhamos que virar e até nos avisava com vários metros de antecedência. Assim que entrámos na auto-estrada disse-nos “Sempre em frente” e calou-se. Como era suposto não ter que nos dar indicações nas três horas seguintes, até sairmos da A1 à entrada de Lisboa, calou-se!
Não meteu conversa fiada, não nos chateou a cabeça com queixas ou histórias desinteressantes. Simplesmente calou-se. E nós, homens, pudemos conversar à vontade sobre gajas, sexo, futebol, carros, gases… E só quando chegámos, então, a Lisboa é que a voltamos a ouvir, fornecendo-nos novamente todas as indicações necessárias: “Virar à direita daqui a 100 metros”, “Virar agora à direita”, “Sempre em frente”, “Preparar para virar à esquerda”…
E quando nos enganámos e não virámos no local certo? Deu-nos cabo do juízo? Disse-nos que não sabemos ouvir e que não lhe ligámos nenhuma? Que somos sempre os mesmos? Que achámos que sabemos tudo, mas que afinal também nos perdemos?
Não! Nem pensar! Não disse nada, nem sequer uma pequena reprimenda. Não. Tratou apenas de nos encontrar outro caminho para chegarmos ao nosso destino. E nem notámos na sua voz o mais pequeno tom de amuo. Era como se não tivesse acontecido nada. Continuamos a ser os mesmos tipos bestiais, em vez de passarmos de repente a bestas…
Agora, também não sou ingénuo ao ponto de pensar que as meninas do GPS são absolutamente perfeitas,
elas mantêm uma réstea de afinidade com as outras mulheres. Uma vez por outra, se formos demasiado desobedientes em relação às suas indicações, também se tornam chatas e até insuportáveis. Aconteceu-nos quando decidimos, a meio do percurso, fazer um desviozinho de alguns quilómetros para comer um Leitão à Bairrada na Mealhada. Afinal,
as tradições são para se cumprir e não se pode fazer uma viagem de carro entre o norte e o sul sem almoçar ou jantar um leitãozinho! E ela, a menina do GPS, que já ninguém a ouvia há um pedaço de tempo, quando se apercebeu do desvio à rota estabelecida, começou imediatamente a dizer “Assim que possível, dar meia volta em direcção à A1”. E não parava de chatear, apesar de lhe dizermos que estávamos esfomeados e de lhe falarmos acerca da tal tradição: “Na próxima rotunda, contorne-a e volte para trás em direcção à A1”, “Vire à direita, depois à esquerda e siga em frente para a A1”, “Dê meia volta”, “Volte para trás”, bla, bla, bla….
Só que as meninas do GPS têm um bem, que faz delas quase perfeitas, e que as outras mulheres não possuem. Simplesmente carregámos num botãozinho e ela calou-se imediatamente, deixando de nos chatear, podendo nós ir comer o leitãozinho sossegados.
p.s. – Resta-me dizer, por fim, que tal como se passa com a generalidades das outras mulheres, a menina do GPS fez-se de difícil comigo. No final da viagem, convidei-a para tomar uma bebida e ela nada! Nem se dignou a responder. Acho mesmo que até se auto-desligou!...
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por cavalheirosdoapocalipse, em 16.03.07
Segundo a Organização Mundial de Saúde as pessoas que bebem vinho tinto, seguido de um bom charuto, tendem ter mais qualidade de vida, melhores índices de auto-realização e a ter mais sucesso sexual. Este estudo foi realizado durante quatro anos e envolveu mais de 122 mil indivíduos. As conclusões são inequívocas, as pessoas que com frequência bebem dois copinhos de Barca Velha ou Château Margaux, seguido de um bom charuto Arturo Fuente ou Montecristo tendem a ter mais qualidade de vida. Esta investigação indicou, ainda, que um mergulho na piscina aquecida à noite e um whisky de 20 anos servido por duas senhoras de biquini tende a estar associado a maior bem-estar e a menores problemas de desnutrição.
A Organização Mundial de Saúde considera os resultados desta pesquisa decisivos para implementar novas políticas no combate à pobreza e à desigualdade social.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 16.03.07
Já há mais de um ano que envio e-mails para o Ministério da Administração Interna a alertar para um dos maiores perigos nas estradas portuguesas e que continua a passar ao lado das grandes campanhas de prevenção rodoviária: a masturbação ao volante. Julgo que os números sinistros que observamos diariamente não se podem justificar apenas pelos suspeitos do costume: manobras perigosas e álcool. Neste último ano dediquei muito tempo ao estudo dos dados disponibilizados pelo ministério e concluí que alguns dos acidentes para os quais as autoridades não apresentam justificação
tiveram como causa a trepidação intencional dos órgãos sexuais dos condutores portugueses. Segundo os meus cálculos, no ano passado terá morrido muita gente, e muitos mais ficaram feridos, vítimas da fricção tanto do clitóris como do pénis dos condutores em estradas nacionais e IP’s. Claro que este assunto não dá votos e o Engº Sócrates e companhia preferem não enfrentar o problema a avançar com medidas claramente impopulares. Engº Sócrates, porque não revela os estudos que têm sido sonegados do conhecimento público sobre o impacto nas estradas portuguesas do estímulo do clitóris e das contracções pélvicas?
É fundamental que o governo tome medidas urgentes para acabar com as principais ameaças à segurança rodoviária.
Não poderemos continuar a fechar os olhos quando os casais decidem explorar o ponto G do condutor sem imobilizar a viatura; ou aos condutores de veículos de caixa manual que ocupam uma das mãos com o órgão sexual do passageiro e este se debruça sobre o seu baixo-ventre, colocando parte do tronco sobre a alavanca das mudanças e diminuindo a visibilidade sobre a estrada; ou o incumprimento dos limites de velocidade no interior e fora das localidades sempre que o passageiro estimula com a língua o ânus do condutor de um velocípede. Isto para não falar no perigo das orgias em carrinhas de caixa aberta, mas essa é uma questão que deve ser debatida noutra altura e que merece por si só um debate nacional e uma reflexão que deverá envolver os agentes mais representativos da nossa sociedade.
O fundamental é que os portugueses têm de perceber que se conduzirem não podem agitar órgãos sexuais e cabe aos governos tomar medidas preventivas que ponham fim a esta ameaça.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 13.03.07
Julgo que todos os portugueses estão a acompanhar com algum gozo e entusiasmo este braço de ferro entre mim e o Engº Sócrates, que se mantém numa postura cada vez mais autista e se recusa a dar uma resposta às minhas pretensões. Não é difícil adivinhar que o Engenheiro está a ficar perturbado com a minha acção, mas tenta disfarçar (diga-se de passagem, bastante mal), acreditando que se fingir que não existo, então deixarei de existir. Pois bem, senhor Sócrates, “I’m your worse nightmare”.
Dia 21 de Março, proponho que todos os Portugueses se unam num mega protesto contra a actual situação no nosso país e que entre as 16h e as 18h andem com um ar carrancudo. Veremos se esta mega força de má disposição e mal-estar não o demoverão! E desde já aviso que se não manifestar em breve a intenção de mudar, senhor sócrates (repare que escrevi o seu nome com minúsculas), poderemos avançar para um protesto em que todos os portugueses durante três horas “responderão torto”.
Aqui segue a minha lista de exigências ao Engenheiro Sócrates, da qual julgo que nenhum português deve abrir mão de um único ponto que seja:
1º Alterar esse ar convencido e todo cheio de “eu é que sei”;
2º Deixar a entender, de modo formal ou mandando umas indirectas, que este não é o caminho correcto;
3º Olhar com outros olhos para o povo português;
4º Imprimir uma outra dinâmica no seu governo;
5º Deixar de pintar o cabelo de branco e de fazer madeixas que constituem uma falta de respeito a muitos portugueses;
6º Baixar os preços dos vinhos;
7º Apresentar políticas de combate à hipocrisia e à insensatez.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 09.03.07
Há oito anos fui a Fátima tomar uma cerveja com a irmã Lúcia. Agora que a irmã já não está entre nós, posso contar a história. Já lhe tinha escrito por diversas vezes a dizer que gostava de me sentar e conversar com ela, mas nunca recebi resposta. Decidi-me a telefonar e marquei um encontro. Acho que ela gostou da minha frontalidade e admiração, ao telefone disse-lhe que já acompanhava a carreira dela desde pequenino.
O encontro foi emotivo, chorei mal a vi e ajoelhei-me durante vários minutos.
Ela não queria tomar nada mas eu insisti: “tome uma cerveja preta que faz bem aos ossos”. Perguntei-lhe se tinha sido Nossa Senhora que lhe disse para se enfiar num convento, não vestir nada de jeito, não fazer umas limpezas de pele, nunca curtir com ninguém e não aproveitar a vida. Ela assegurou-me que não. Fiquei surpreendido. Eu achava que a irmã Lúcia tinha mérito, mas nunca ninguém lhe ensinou a gerir o tempo e a controlar o stress. A verdade é que a irmã não tinha culpa, por isso tentei dar-lhe umas dicas sobre hierarquia de tarefas, planeamento diário e técnicas de reuniões produtivas. A irmã Lúcia era sem dúvida uma grande profissional, mas isso não implicava que não tivesse um tempinho para si, para ir dar umas voltas, conhecer gente nova, ir a um ginásio ou piscina.
Ela sorriu, certamente pensava que já era tarde de mais, mas eu lembrei-lhe que nunca é tarde, “inscreva-se naqueles jantares dançantes, só vai gente disponível”. Lembrei-lhe daquele pessoal da Bíblia que aos oitenta e tal anos ou mais ainda lhe malham forte e feio e aparecem com filhos. Aconselhei-a a usar uma agenda electrónica e a utilizar lembretes que certamente nunca falharia nenhum compromisso.
No fim, partilhei então o que lá me tinha levado. Eu também já tive uma aparição. Estava em Armação de Pêra, num dia de céu bastante nublado, deitado na praia e de repente vejo à minha frente a imagem de uma senhora toda vestida de branco, a pairar no ar. Na altura, fiquei com um ar surpreendido e perguntei se era para os apanhados. Ela disse que não e eu pedi-lhe uma prova, fazendo com que o sol aparecesse, o mar ficasse calminho e quente e estivesse um dia maravilhoso de praia até às 18h. O sol descobriu-se nos céus e as ondas pareceram desmaiar. Fiquei aparvalhado. Pedi-lhe uma omoleta mista no pão e uma cerveja e apareceram-me imediatamente. Embora fosse cerveja branca, não me importei.
Depois, Nossa Senhora disse que teríamos de mudar muito o nosso comportamento se quiséssemos uma economia mais competitiva e produtiva, precisávamos de maior flexibilidade e mobilidade profissional e assegurou-me que enquanto continuássemos com uma legislação laboral tão rígida dificilmente atrairíamos investimento estrangeiro. Disse-me para nos prepararmos para a subida das taxas de juro, que teríamos de orar para conseguirmos energias alternativas e que eu deveria anunciar isso a toda a gente. Eu disse, OK, tudo bem, mas não me dava jeito nessa altura, porque tinha já combinado uma tainada com o pessoal no parque de campismo e só voltava no dia seguinte para o Porto. Então disse-lhe que se não se importasse, podia voltar a aparecer-me lá por casa, falávamos mais calmamente e assentávamos umas ideias no papel. Ela não se importou e eu propus-lhe que da próxima vez ela viesse preparada para fazer briefing, juntos poderíamos definir uma estratégia de comunicação, fazer até um brainstorming para arranjar ideias porreiras e, se considerasse relevante, eu poderia avançar desde logo para a formação de uma task-force com vista à implementação de todo o processo.
Bem, o certo é que ela nunca mais me apareceu e eu estava ali com a irmã Lúcia para saber se Nossa Senhora teria intenções de voltar a encontrar-se comigo ou se o projecto era para colocar de lado. “Irmã Lúcia, veja bem, já fiz alguns investimentos iniciais. Com esta brincadeira, lá foram 1350 € e não sei quem é que se vai responsabilizar por me ressarcir. Mas é mais a questão da palavra e do profissionalismo. Quando cheguei ao Porto estive a definir um cronograma, elaborei um mix de comunicação, fiz planeamento logístico, reuni uma equipa com pessoal licenciado e agora ela faz-me isto. Desaparece”. A irmã Lúcia encolheu os ombros e disse que tinha de voltar para a oração.
Não insisti, disse-lhe apenas: “irmã Lúcia, você pode ser muito, muito feia por fora, mas por dentro deve ter uma saúde de ferro. E isso é o que interessa. Cuide de si”.Parti com a certeza que este era mais um projecto para a prateleira. A partir desse momento deixei de acreditar em Deus. Se quiser avançar com alguma coisa, primeiro quero um adiantamento como manifestação de boa fé e só depois é que entro. Estou farto de discursos.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 07.03.07
Queria dar publicamente os meus parabéns à TVI. É verdade que o meu primeiro post foi a denunciar que esta estação de televisão é a principal responsável pela crise que Portugal vive há alguns anos, mas sei ser justo e reconhecer o mérito quando ele existe.
O que me leva a dar os parabéns à TVI é o papel importante e fundamental que esta estação de televisão tem desempenhado na não discriminação de públicos e no pioneirismo em desenvolver produtos que poucos têm a coragem de fazer. Vem isto a propósito da actual exibição por parte do canal de Queluz de mais uma telenovela para deficientes mentais, a Doce Fugitiva.
Num mundo em que cada vez é menor a preocupação real, e não fingida, em acabar com certas atitudes discriminatórias, é muito positivo ver uma estação de televisão esquecer um pouco a vertente puramente económica e assumir uma missão social, criando uma telenovela especialmente concebida e direccionada para os milhares de cidadãos deficientes mentais existentes em Portugal e tendo a coragem de a transmitir no denominado horário nobre.
Uma cidadã deficiente mental por mim contactada, afirmou que é com muita satisfação que vê a existência de um produto televisivo como a Doce Fugitiva (que muito aprecia) e que é extremamente importante que as televisões não se esqueçam deles. Relembrou-me ainda o pioneirismo da TVI nesta matéria, quando há alguns anos exibiu o Anjo Selvagem, aquele que é considerado como o primeiro produto televisivo nacional especialmente concebido para deficientes mentais (em relação a esta telenovela, deixei-a um pouco desapontada quando lhe disse que, ao contrário do que ela sempre pensou, não foi também a primeira a ter como protagonista uma deficiente mental…).
p.s. – Acho que se justifica, igualmente, uma palavra de apreço para a SIC pela exibição da Floribela, um produto, como é do conhecimento geral, direccionado para crianças com necessidades especiais e idosos com Alzheimer e Parkinson.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 02.03.07
Decidi criar uma campanha em prol desse grande génio do futebol mundial que é Cristiano Ronaldo, esse verdadeiro herói moderno português, símbolo e exemplo maior para os portugueses (e, já agora, injustamente esquecido na votação dos Grandes Portugueses…).
A campanha que agora inicio, e para a qual espero encontrar apoio entre os leitores do blog Cavalheiros do Apocalipse, tem em vista a alteração de algumas regras do futebol e intitula-se “Uma bola para o Cristiano Ronaldo”.
Estou na fase final da redacção de uma carta que será enviada para diversos organismos que superintendem o futebol, nomeadamente a Federação Portuguesa de Futebol, a FIFA, a UEFA e Federação Inglesa de Futebol – sendo enviadas cópias igualmente para os treinadores do Cristiano Ronaldo -, em que proponho e justifico uma série de alterações nas regras do futebol tendo como finalidade a protecção da forma de jogar do Cristiano Ronaldo e, consequentemente, a satisfação e o prazer obtidos pelos adeptos do chamado desporto-rei.
Apresento, de seguida, em traços gerais, algumas das ideias fundamentais que defendo, sendo que a primeira e mais importante de todas é a introdução de uma segunda bola nos jogos em que participe o jogador português, tanto ao nível de clubes como de selecções.
Falo por mim, porém sei que a minha opinião é partilhada pela maioria dos verdadeiros amantes do futebol: quando vejo um jogo da selecção portuguesa ou do Manchester United vejo-o, apenas e só, por causa do Cristiano Ronaldo. E torna-se deveras aborrecido e irritante ver o Cristiano Ronaldo ter que partilhar a bola com os outros jogadores em campo, nomeadamente ter que a passar aos seus colegas de equipa… O maior prazer que eu retiro de uma partida de futebol é ver os génios, as estrelas da bola como o Cristiano Ronaldo, a fazer aqueles dribles mágicos, aqueles malabarismos fantásticos, aqueles nós-cegos pregados aos adversários; e sinto que o futebol morre sempre um pouco mais quando o Cristiano Ronaldo é obrigado, por imperativos tácticos, a passar a bola aos outros jogadores. Não é isso o que ele quer; e não é isso o que os adeptos de futebol querem…
Por isso, o que peço é que exista uma bola apenas para o Cristiano Ronaldo e outra para os restantes jogadores. Assim, enquanto os outros fazem por cumprir os objectivos delineados, tentando marcar golos e conseguir a vitória num esforço repartido e quase anónimo, ajudando-se uns aos outros como equipa, como meros instrumentos de um mecanismo, o Cristiano Ronaldo pode deliciar-nos a todos com os seus sprints velozes e loucos, com os seus dribles estonteantes, com aqueles passares de pernas aparentemente atabalhoados e sem sentido por cima da bola que mais não são do que passes de magia feitos com os pés, num misto de Charlie Chaplin e de David Copperfield do futebol.
(Já agora, adianto que pretendo escrever brevemente um livro sobre a necessidade de uma revolução táctica nos jogos em que o jogador português participe, com a criação do esquema táctico Cristiano Ronaldo + 10, em que existe a titularidade obrigatória para ele e em que não é possível substituir o Cristiano Ronaldo a não ser que ele o peça expressamente).
Sugiro, igualmente, a criação de uma faixa de utilização exclusiva para o Cristiano Ronaldo a todo o comprimento do campo e com cerca de 5 metros de largura, nas laterais, onde ele poderia pôr em prática todas as suas habilidades e fazer aqueles seus piques de velocidade, sem adversários para o atrapalhar, e de forma a ficar mais perto do público, impedindo que ele tenha que deambular demasiadas vezes pelo centro do terreno.
Num outro ponto, defendo que os primeiros cinco minutos de cada parte sejam dedicados exclusivamente ao Cristiano Ronaldo, não se criando distracções desnecessárias para os adeptos. Paralelamente, sugiro que nas transmissões televisivas exista uma câmara totalmente dedicada ao génio português, sendo que a imagem no ecrã deveria estar dividida em duas para ser possível acompanhar a arte do Cristiano Ronaldo e o restante jogo em simultâneo.
Ademais, recomendo vivamente aos organismos que dirigem o futebol a inclusão de uma norma que obrigue a um aumento de pelo menos 10 centímetros de altura à relva de forma a amortecer mais convenientemente os belos mergulhos do Cristiano Ronaldo, nas suas fantasiosas e engenhosas simulações com que ele nos brinda e desconcerta os opositores directos. De igual modo, considero ser importante que a disciplina seja mais pesada e implacável para com todos os que, directa ou indirectamente, fazem o Cristiano Ronaldo cair, devendo haver no mínimo um agravamento de 50% em relação à disciplina considerada normal, assim como acho fundamental a criação de uma espécie de zona de tolerância de pelo menos 3 metros em redor das grandes áreas, para ser assinalada grande penalidade quando as infracções forem cometidas sobre o Cristiano Ronaldo.
Estou aberto a sugestões que me queiram enviar para incluir na missiva a remeter para os diversos organismos do futebol em defesa do génio que é o Cristiano Ronaldo e do futebol enquanto arte e veículo de prazer.
p.s. – Apesar de considerar o Quaresma um jogador bastante razoável, não concordo com a implementação de uma época do ano dedicada a ele! Ainda se fosse um dia (o que mesmo assim era injusto, uma vez que ainda não estabelecido o dia Cristiano Ronaldo), mas 40 dias de Quaresma é claramente um exagero, para um jogador demasiado objectivo e dado a ajudar a equipa com assistências e cruzamentos.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 01.03.07
Contra o autismo do actual governo, apelo a todos os portugueses para uma mobilização geral na próxima quarta-feira, dia 7 de Março, entre as 16h e as 16h05:
Vamos fingir-nos de mortos!
Entretanto, quero anunciar a toda a comunicação social que vou dar início hoje a uma greve de fome em que me comprometo a não ingerir líquidos ou sólidos todos os dias entre as 16h e as 17h. Os senhores jornalistas poderão contactar a D. Amélia do Café Fonseca e verificar que já cancelei o panike de ovo e o galão que tomo diariamente.
Estarei disposto a endurecer as minhas posições até que o governo revele sinais de mudança. Se nos próximos 30 dias o governo não inflectir a sua atitude poderei convocar todos os portugueses a ficarem com ar sisudo, durante uma hora, como forma de protesto.
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por cavalheirosdoapocalipse, em 27.02.07
Enviada esta segunda-feira com aviso de recepção.
Caro Sr. Jacinto
Há duas semanas, abri-lhe as portas da minha intimidade, recebi-o de braços abertos e acabei por sair magoado. Usando a sua terminologia, encaro cada relação como uma empreitada chave na mão e tento garantir que tudo corra bem. Mas nunca aprendo. Pois bem, sr. Jacinto, considere-se o meu último professor, eu aprendi a lição.
Quero que saiba, sr. Jacinto, que eu conheci outro picheleiro. Sim, depois de tudo o que se passou entre nós, claro que não o ia chamar a si para me resolver o problema da sanita. Chamei uma empresa e enviaram-me um picheleiro muito bem parecido, transbordava alegria e simpatia e sabia lidar com os outros, fazendo-me sentir um verdadeiro homem. À entrada, o sr. Alves (é assim que ele se chama, para depois não me vir com cenas a perguntar quem é ele) tomou a iniciativa de me estender a mão e pediu-me licença para entrar. Meu Deus, quase perdi a respiração, percebi que tinha um cavalheiro à minha frente e não outro sr. Jacinto. Lembro-lhe que o senhor quando entrou em minha casa não me cumprimentou e nem limpou os sapatos no tapete. E quando chegou à casa de banho eu falava para si e você não me ligava nenhuma, como se pelo facto de eu nunca ter mexido em tubos, torneiras e chaves inglesas, eu não fosse suficientemente homem para si. Pois fique a saber, o senhor Alves até parou de martelar na parede só para eu acabar de falar. Um encanto! Enquanto o senhor me encheu o quarto de cimento e betumes, o senhor Alves trouxe dois panos e cobriu o chão antes de começar a trabalhar. Naquele momento, fiquei totalmente conquistado.
Sr. Jacinto, fique a saber que quem recorre a um picheleiro muitas vezes procura também um ombro amigo que o ouça na sua aflição e lhe dê atenção. Eu quis-lhe contar como descobri a fuga de água, o meu desespero e o senhor nem quis saber.
Mas o que mais me magoou no sr. Jacinto foi quando eu confundi uma anilha com uma bucha o senhor riu com desprezo e abanou a cabeça. Eu feito tolo, como sou demasiado dado, ainda lhe ofereci três cervejas. Claro que o álcool só ajudou a destruir a nossa relação, porque o sr. Jacinto depois das três cervejas até foi rude comigo, quando me berrou para não abrir a torneira e ainda usou expressões como “esta porra”. Pois fique a saber, enquanto não resolver o seu problema com o álcool, se calhar não será capaz de construir uma relação estável. Ao contrário de si, o meu novo picheleiro disse-me que só tomava um copinho à hora das refeições.
Por fora, sr. Jacinto, vê-se o que se é por dentro. O sr. Alves vinha vestido como se fosse para ir ao centro comercial, com um colete bege, uma camisa bordeux, a combinar com uma calcinha de ganga azul escura. É nestas pequenas coisas que se vê um picheleiro. O senhor vinha com umas calças rotas e uma camisola justa toda cheia de tinta, que não o favorecia nada. E sempre com aquele palitinho insuportável na boca. Apetecia-me limpar-lhe os dentes de uma vez com um fio dental e partir esse palitinho em mil bocados. O sr. Alves vinha com o cabelo curto e penteado, como eu gosto, com um bocadinho de gel, que dá aquela aparência húmida. Parecia um engenheiro. Saiba, sr. Jacinto, que engenheiro é aquele que parece. Você entrou-me cá duas vezes a casa com o cabelo cheio de pó e um boné da “Moutados” todo sujo de tinta e cimento.
Mas o pior de tudo foi quando o senhor me veio com a história que não era trolha, que era picheleiro. Eu só gostava de compreender onde acaba o trolha e começa o picheleiro. Se calhar para os outros o senhor já era trolha, mas para mim era só picheleiro. E quando eu o vi a partir um bocado de parede para puxar o tubo para fora, o senhor disse que isso é trabalho de picheleiro, mas quando eu lhe pedi para me substituir um azulejo, o senhor afirmou que isso é trabalho de trolha. Eu acho que o senhor tem duas personalidades e duas caras e o senhor é que tem problemas de identidade. E enquanto não for a um psicólogo tentar resolver isso, não será capaz de descobrir e assumir que tem um picheleiro e um trolha dentro de si. Pois fique a saber que no senhor Alves eu tenho um trolha, um picheleiro e um electricista. Sim, electricista, ele ainda me instalou uma tomada na parede. O Sr. Alves não é apenas o picheleiro mais educado e bem parecido que eu alguma vez conheci, é também um homem muito prendado e versátil.
Pois bem, sr. Jacinto, as coisas entre nós terminaram.
Até sempre
JP
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